domingo, 21 de fevereiro de 2010

Malas, bares, novos ares, mal dos ares... Malabares

Malas, bares, novos ares... entre tantos batentes, experiências e aprendizados, surgiram os malabares. Ainda me lembro (como se houvesse sido há tanto tempo atrás... aliás, talvez tenha sido...), na Bolívia, quando, na altitude, sentimos de forma mais intensa o mal dos ares e, com ele, a chegada dos malabares. O advento dos malabares. Surgiu não de mim, que nunca fui muito fã de circo e tinha, quando criança, uma certa desconfiança de palhaços. Surgiu de alguns caravaneiros que já tinham alguma experiência na área, por assim dizer. O que fazer no “autobus” quando já se leu trocentas páginas de algum livro, quando já se cansou do nosso documentário ao vivo nas janelas, quando se quer descansar dos inacabáveis debates sobre a origem do céu e da terra?
Malabares.
            Só nos daremos conta de muitos dos aprendizados da viagem quando voltarmos para nosso cotidiano soteropolitano. Mas uma das coisas que já posso dizer que aprendi é a fazer malabares. Literalmente mesmo. Momento de gaiatice e desprendimento do “alrededor”. E de tanto se jogar nos malabares, foi inevitável a comparação com a viagem que fazemos. Uma viagem viajada, diria outro caravaneiro.
Bem, vamos lá!
            Com as clássicas três bolinhas dos malabares, podemos traçar um paralelo com três esferas da jornada: o acadêmico institucional; o turístico; e o estágio em relações humanas.
O acadêmico institucional como objetivo coletivo norteador das nossas escolhas e destinos. Momentos oficiais de riqueza intelectual incrível e abertura para outros mundos. Nossa face ajuizada. Essa seria a primeira bolinha.
Se a primeira bolinha jogada inicia a arte do malabarismo, abrindo as portas para outros mundos, o êxito do lançamento e apreensão da segunda é que define a continuidade do movimento, que nos permite a entrada em outros mundos. Nossa aresta turística seria a segunda. Oficiosa. Não “turística” no sentido esvaziado da palavra. Turística naquela sensação de inquietude, de curiosidade, de indiscrição, de vontade, de sede, de fome. E, falando de fome, aproveito para parafrasear uma prima minha, fazendo uma analogia a uma de suas ótimas percepções: e a merda, é que a América Latina não cabe numa colher. É realmente difícil compreender toda a realidade de uma cidade em 2 dias, de um país em 2 cidades visitadas, de um continente em 2 meses e de uma caravana em 2 bolinhas. Vamos para a terceira.
A terceira bolinha, e não menos importante, estágio (ou curso de imersão?) em relações humanas. A quase 3 anos estudando medicina na Universidade Federal da Bahia – UFBA - e há muito não me sentia, de fato, numa universidade, justamente quando estou cada dia mais longe dela enquanto instituição física. Talvez o problema fosse, e seja, justamente esse. Estudar medicina. Pode parecer fatalista, darwinista, maquiavélico, o que for, mas hoje eu visualizo com mais nitidez como este curso tem o potencial quase assustador de vilipendiar uma pessoa, um baiano. Prognóstico sombrio. Há quanto tempo eu não lia um livro não-médico, sem aquela pressão de absorver para toda a eternidade o conteúdo de um parágrafo? Pode-se imaginar o crescimento pessoal que é conviver 24 horas do meu dia (ou 50 horas, para aqueles que dizem que meu dia é maior que o dos demais) lado a lado com estudantes de direito, ciências sociais, sociologia, história, arquitetura, artes, cinema, engenharia sanitária e ambiental, administração, relações e negócios internacionais e jornalismo, e, entre estes, anarquista, feminista, vegetarianos, entre outros. Afirmo que são outros instigantes mundos, fora daquele que eu conhecia. Ou seriam partes desse mundo que eu achava que conhecia? Vixe... se fosse redação de vestibular era zero, por fuga ao tema. Deixa eu voltar pros malabares...



            Deve ser notado que cada bolinha tem sua cor, sua singularidade. Entretanto, ao mesmo tempo, devem ter o mesmo tamanho, o mesmo peso, de forma que o malabarismo fique harmônico, não-capenga. Cada esfera dessa jornada deve receber a mesma atenção, prioridade e dedicação. A falta de uma delas inviabiliza a integralidade desta arte. Se alguma das bolinhas cai no chão, será em vão tentar evitar a queda das outras duas. Se uma cai, todas caem. Por terra. Cada bolinha é essencial para a magia e beleza do malabarismo. E, mesmo essencial, a bolinha não cabe inteira na mão, como não cabem inteiras em nossa limitada percepção do concebível todas as faces de cada esfera da jornada.
            Dizer que devem ter o mesmo peso não significa que devem receber a mesma atenção no mesmo momento. No malabarismo, a todo instante, você possui 1 bolinha em cada mão, e a outra no ar. Trocando em miúdos, a cada instante a mão apropria-se de uma esfera, já que as bolinhas rapidamente alternam de mãos, mas a esfera que estaria mais distante, bolinha no ar, é exatamente aquela na qual nossos olhos estão focados. Mesmo que esteja apropriando-se desta esfera, na mão, nunca se pode perder de vista aquela, no ar.
            E o aprendizado? Que coisa bela é o processo de aprendizagem. Qualquer que seja. Mas vamos tratar deste em específico, aprender a lidar com os malabares. No processo de aprender a fazer malabarismo, é preciso paulatinamente calibrar a força que se aplica a cada lançamento, a direção e destino de cada bolinha e ainda conseguir cambiar as mãos. A caravana da integração é assim. É preciso ajustar a intensidade com que nos lançamos em cada oportunidade, em cada momento, definir bem o destino que será dado às abstrações oriundas das experiências e ainda ter a flexibilidade para cambiar atitudes e conceitos, adequando-se às realidades encontradas, intra e extra-caravana. Até a posição do seu corpo, não só das mãos, é fundamental para o malabarismo e deve ser aprendida. É preciso estar preparado, se plantar e compreender sua posição e condição enquanto entidade subjetiva, que não pode objetivar tudo o que vivencia, apesar de às vezes ser este o meu desejo.
            Fazer malabarismo com 3 bolinhas é o que consigo hoje. E já não é tão fácil. Só o treino e o tempo, num quase adestramento, podem permitir que mais bolinhas, mais esferas, entrem no malabarismo. Assim como captar outras esferas da jornada que nos envolvem, de forma implícita, nos exige adestrar-se. Nos exige ter o olhar armado. Nos exige tempo e, por quê não, treino.
            Que graça teria fazer malabarismo sozinho? Sem que houvesse alguém que, de uma posição externa privilegiada, pudesse visualizar a beleza do malabarismo em toda sua completude, com a dança hipnótica das bolinhas aos seus olhos. Que graça teria fazer uma aventura como esta, por todo um continente, por toda uma história, por toda uma simbologia, sem ter com quem dividir as descobertas, as ilusões, as desilusões, as indignações, as risadas e as saudades? É aquela terceira bolinha. É ver-se plasmado no outro. A relação com o outro. É exercitar o outramento, complexo conceito cunhado por minha mãe.
            Depois de tantas semelhanças, analogias, paralelos e meridianos, só consigo enxergar uma diferença entre o malabarismo e a caravana. Se no decorrer dos dias as bolinhas vão se desgastando (e foi preciso comprar outras), com cada esfera da jornada acontece o contrário. Tornam-se mais resistentes. Mais fortes. Intensificam-se. Aprofundam-se. O passar dos dias e o viver os cotidianos engrandece nossas percepções e a nós mesmo.
            Que sigam as malas, os bares, os novos ares. Que sigam os malabares.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Dia 24 – 31 de janeiro de 2010 – Bolívia

“E tome integração regional...”

            Na noite passada, conhecemos um economista boliviano, conhecedor profundo tanto do recente contexto sócio-político-econômico quanto das mais antigas histórias e lendas de seu povo. Como ele trabalhava na cidade e dormia num quartinho no próprio hotel onde estávamos, pudemos conversar até tarde. Pela manhã, cogitamos a possibilidade do mesmo nos acompanhar até La Paz, sendo um “guia” particular, dividindo o conhecimento conosco, de onde lhe pagaríamos a volta para sua cidade. Infelizmente, não conseguimos um acordo com o seu chefe.
            Sán Cristóbal é uma cidadezinha tão pobre que nem consegui contatar ninguém antes de viajar. A internet tem a velocidade de uma discada e não existem telefones públicos ou centros de chamadas para fazer uma ligação internacional.
Fabrizzio, como previsto, já está 100% novamente. Podemos seguir viagem.
    Podem conferir um pedaço do trecho que passamos no vídeo do Youtube no link: http://www.youtube.com/watch?v=aWn3BmXYCr8
Este trecho representa 75% de toda nossa estrada (se é que se pode chamar assim) até Potosí. Em 5% não houve problemas.
            Os outros 20% foram à noite, debaixo de chuva e enfrentando atoleiros, carros pequenos e caminhões atolados, engarrafamentos e o frio. Em breve devemos postar algum vídeo que tente passar um pouco do que passamos. Não foi raro considerar a possibilidade de ter que esperar estiar, a estrada secar e não chegar em Potosí antes do amanhecer. Foi o pior trecho da Caravana até o momento. Se daqui pra frente tudo correr como o previsto, terá sido mesmo o pior.

Dia 23 – 30 de janeiro de 2010 – Chile-Bolívia

“Anúncio do que está por vir... Integração regional?!”

            Quase não usei minha barraca para dormir. A usei por uns 30 min, para ser exato. E a quem está se perguntando por quê, isso é uma história que só vou contar depois, lá pra março.
            Saímos de San Pedro do Atacama quase 07h da manhã, rumo à, finalmente, Bolívia. A aproximação com a fronteira é perceptível pelo balanço do INULATÃO, resultante das condições do asfalto, tanto pior quanto mais próximo da fronteira estamos. Não comentei ainda, mas as condições do asfalto são perfeitas desde Santiago, subindo, atravessando todo o deserto...mas próximo da fronteira, na região que foi conquistada pelo Chile na Guerra do Pacífico, retirando da Bolívia o contato com o Oceano Pacífico, e que hoje, através de alguns acordos é uma das principais vias de escoamento de produção e chegada de produtos via Pacífico para a Bolívia... está em péssimas condições. Para completar o cenário de limitação à Integração Regional, a região da fronteira em si com a Bolívia está, de cada lado da estradinha, recheada de minas terrestres. Elas não tem nenhuma relação com a Guerra do Pacífico. Foram colocadas depois, por motivos “obscuros” que ninguém soube me explicar ao certo. A aduana boliviana parece um casebre, em relação às do Paraguai, Uruguai, Argentina e Chile, e já anuncia o naipe do país. Fiscalização, somente quanto aos passaportes. Quanto às bagagens, nada.


            Devido às condições da estrada, dormimos em Sán Cristóbal, cidadezinha a caminho de Potosí. A Bolívia é tão barata quanto as pessoas falavam. Nosso jantar, bem servido, saiu por pouco mais de 3 reais por pessoa.
            Mais um baqueado pelo efeito da altitude, talvez o mais grave até agora. Fabrizzio, nosso co-piloto. Enjôo, dor de cabeça, um pouco de falta de ar, falta de apetite... mas tudo dentro do esperado. Amanhã deve estar novo de novo.

Dia 22 – 29 de janeiro de 2010 – Chile

“Um pouco do Atacama...”

Meu dia começou mais cedo que o dos demais caravaneiros. Para ser mais exato, às 02:30 da manhã. Para ser sincero, só descobri que não dormiríamos no deserto quando acordei e todos estavam dormindo. Antes, tinha tentado ficar acordado até a parada no deserto, mas o frio falou mais alto e me encolhi em posição fetal. Dormi, claro. Sem sono e sem nada pra fazer, tentei o improvável: acessar a internet por alguma rede sem fio que houvesse no meio da rua na praça. Para minha surpresa, haviam inúmeras, o que não está sendo novidade, já que em todos os países por onde passamos não é raro haver wi-fi em praças públicas, além de redes de restaurantes, de empresas e domésticas. Pude olhar e-mails, ler notícias sobre a Bolívia, Peru e Venezuela e, finalmente, colocar em dia minhas Notas sobre a América do Sul. Fiquei acordado até a hora que o ônibus saiu, umas 07:30h pra 08:00h.
Seguimos pelo deserto do Atacama. Próxima parada: San Pedro do Atacama.
Chegamos no meio da tarde, para o almoço. É uma cidadezinha, aliás, um vilarejo no meio do deserto, próximo ao “Vale de La Luna”, onde parece não chover há meses ou anos. Apesar da adversidade, ou por causa dela, é uma cidade bastante turística, bastante movimentada tanto de dia como de noite. Quanto às nacionalidades dos turistas, se vê poucos brasileiros, talvez porque estejamos acostumados a resumir nosso conhecimento de um país à sua capital. Havia muitos mochileiros. As atrações são mesmo relacionadas a belezas naturais próprias do deserto, o Vale de La Luna, que recebe este nome por sua suposta semelhança com o terreno lunar, alguns Gêisers e uma “cidade fantasma” próximo, ruínas de algum vilarejo antigo. Pelas ruas estreitas, barzinhos e mercadinhos de artesanato. Nos alojamos num camping, inaugurando nossas barracas.
À noite, os que não costumam sair à noite se recolheram mais cedo e outros foram a showzinho de um grupo típico da região, no mesmo restaurante(zinho) onde jantamos. A casa estava lotada. E que diferentes as músicas e as danças do povo nativo. Só ao vivo mesmo para eu tentar explicar. Na verdade, com todo o respeito à cultura alheia, eu achei foi muito engraçado, como talvez eles achem engraçado o nosso arrocha ou pagode. Ah! É proibido ingerir bebidas alcoólicas nas ruas em todo o Chile. Interessante isso. Nada mais justo. Essas festas e os bares fecham às 01:00h da manhã, horário em que todos os jovens, adultos jovens e descompreendidos se reúnem na principal rua da vila à espera de que alguém dê a direção de onde será a festa clandestina da noite. É assim mesmo que chamam essas festas, que ocorrem no deserto, no Vale de La Luna, para onde se vai de carro (um transfer), ou em alguma propriedade privada no meio do mato, como um sítio, para onde se vai a pé. São duas festas diferentes quanto ao ambiente, mas semelhantes quanto ao público-alvo e o consumo de drogas lícitas e ilícitas. É um fenômeno inusitado a aglomeração de pessoas no mesmo horário no mesmo lugar, como se todos tivessem marcado, e, logo após, a migração, como uma novena, para o local onde se tomam os transportes para o deserto ou para o sítio da outra festa.
San Pedro do Atacama é parada obrigatória para aqueles que desejam conhecer o deserto do Atacama. Valeu a pena!
*Como, não sei porque joça não tirei nenhuma foto em minha máquina de San Pedro do Atacama, coloco, por enquanto, algumas fotos de região próxima, só pra "sentir" o clima...
















Dia 21 – 28 de janeiro de 2010 – Chile

“América do sul acima...”

A estrada que parte de Santiago rumo ao norte do país, num planalto, alterna-se entre longos trechos em linha reta e trechos extremamente sinuosos, sempre acompanhados por formações montanhosas que, num tom acastanhado e formato diferentes daquelas das Cordilheiras, criam um ambiente que lembra as fotos outrora divulgadas de Marte. Meio surreal, mas é isso mesmo. Pouco a pouco, vai-se aproximando do deserto que encontraremos mais ao norte.






Vez por outra, desfrutamos a vista do Oceano Pacífico e os contrastes que proporciona. Seu azul com o marrom do terreno. O movimento de suas ondas com a aparente estaticidade das pedras e terras contra as quais se chocam. Seu transbordamento de vida em mar com a ilusória ausência desta em terra. Vendo estas paisagens penso que, em algum ponto da evolução do nosso planeta, tudo devia ser mais ou menos assim. Aquela coisa do caldo primordial.
A essa altura, horas e mais horas na estrada, todos já estavam clamando pelo almoço e, por que não, por um mergulho no pacífico, por mais gelado que fosse. Pedido atendido pelo nosso co-piloto. Paramos na Bahia Inglesa. Quer coisa melhor que um bom mergulho no mar, uma praia e comer um peixe dourado frito com a vista da Bahia?




            Seguimos viagem. América do Sul acima. Para demais descrições da paisagem, utilizarei um recurso que, apesar de não deixar de ser literário e/ou artístico, podem observar, utilizarei sempre que estiver com um curto espaço de tempo para ordenar as letras em palavras e organizá-las em períodos, primeiro na área de Wernicke, depois na área de Broca e no meu giro pré-central (lá ele...!) e, depois, na tela do computador. As lentes da máquina captam a mensagem com mais agilidade e os olhos e mente de quem vê a foto, maia rápido ainda. A bateria do meu laptop agradece.



















            Como disse em outros posts, a “viagem” inicial era acampar no deserto, sentarmos em círculo, tocar violão à luz do luar e das estrelas, tomar uma e quem sabe até uma fogueira, para aqueles mais imaginativos. Infelizmente, por motivos menos nobres, dormimos numa cidade chamada Antofagasta, no ônibus mesmo, ao lado de uma praça.

Dia 20 – 27 de janeiro de 2010 – Chile

“Impressões sobre o que vejo...”

            Hoje tivemos, pela manhã, encontro com o decano (corresponde ao nosso diretor) da Facultad de Ciencias Sociales de la Universidad de Chile, com o Ministro de Relações Exteriores e com a Embaixada do Brasil. Obviamente, o grupo se dividiu segundo seus interesses pessoais. À tarde, CEPAL (Centro de Estudos Políticos da América Latina) e, de forma extra-ordinária, pegar o INULATÃO que estava em manutenção numa oficina.
Na hora do almoço, mais um episódio do nosso Big Brother. Devido à correria dos compromissos de hoje, os não-vegans pararam para comer no Mc’Donalds. Os vegans preferiram procurar outro lugar para comer. Houve um desencontro, atraso e uma pitada de discussão/confusão. Esse contraste de opções alimentares ainda vai dar muito pano pra manga.
Para aproveitar meu último dia no Chile e o retorno de meus pais e Chico a Santiago, saímos para jantar à noite, num ótimo restaurante especializado em vinhos e carnes. Uma dilícia! Ah...no Chile, vale a pena experimentar a Piscola (teor alcoólico semelhante à vodka), ou Pisco (Piscola + limão), uma bebida alcoólica típica daqui. Se não me engano, é feita de uma flor.
Ainda, chegando no albergue pouco mais de meia-noite, parti para encontrar alguns caravaneiros em algum bar da cidade. Os encontrei na Bella Vista, onde ficamos até as 03:30h. Nos despedimos de Santiago às 04:(e pouco)h da manhã, rumo ao norte do país, com expectativa de dormir no Deserto do Atacama!
Lá vou eu, mais uma vez, pegar a estrada depois de virar a noite...

...

Abre parênteses. Relatar um pouco as minhas impressões da cidade. Não sei por qual motivo esta foi a cidade sobre a qual menos formei uma idéia própria, naturalmente subjetiva. Talvez por ter estado dormindo quando adentramos a mesma, sei lá. Serei breve.
Geograficamente, localizada num planalto e rodeada por montanhas, além das Cordilheiras dos Andes como plano de fundo, a qual, segundo relatos, era muito melhor vista décadas atrás, antes do crescimento da cidade, atrelado à construção daquela selva de pedra e poluição do ar. Ainda no âmbito físico ou territorial, é cortada pelo Rio Mapucho, que desce das Cordilheiras com uma força de correnteza desproporcional para o baixo volume de suas águas. Em alguns períodos do ano, como o inverno, quando o degelo cessava, costumava não existir, hoje em dia, não sei como se comporta. Este, à semelhança do rio que ladeia o bairro La Boca, em Buenos Aires, é poluído, com um tom de marrom que lembra aquela coisa mesmo que você está pensando. E eu cheguei a pensar, até 1 hora antes de sair de Santiago, quando me contaram a triste verdade, que a cor do rio se devia à quantidade de terra e sedimentos que trazia no seu percurso cordilheira ou cumes abaixo... Ô ingenuidade! “A água desse rio parece mesmo que do cume desce”. Como as demais capitais pelas quais passamos, as quadras são bem demarcadas, o que facilita a localização no espaço e a organização do trânsito.
Deixando de lado o Reino Mineral, pulando o Reino Vegetal e indo para o Reino Animal. Para poupar tempo e criatividade, irei copiar aqui alguns trechos do blog oficial da Caravana (http://caravanadaintegracao.blogspot.com) sobre alguns aspectos da vida humana no Chile:
Também descobrimos que o Chile conta com uma vida cultural bastante ativa - enquanto estivemos aqui, dois grandes festivais, de cinema e teatro, aconteciam simultaneamente, além de outras produções culturais independentes”
Descobrimos que, ao contrário do Paraguai, Uruguai e Argentina, aqui o Ensino Superior está estruturado de uma maneira muito parecida à do Brasil: é preciso fazer um exame para a entrada, como o vestibular, e é mais difícil ingressar nas universidades públicas (cujo prestígio é maior devido ao seu trabalho voltado à pesquisa) que privadas. Aqui, a tendência é que estudantes das classes menos favorecidas estudem em instituições privadas - o que os leva a fazer financiamentos que os deixarão endividados por muitos anos. Para nossa surpresa, as universidades públicas também são pagas aqui - custam cerca de R$600 por mês (valor que também pode ser financiado, porém a juros mais baixos).”
Algumas escolas de Ensino Médio ensinam "Economia Doméstica" com o objetivo de mostrar às futuras donas de casa como cozinhar, costurar, administrar as finanças do lar etc. O aborto é totalmente proibido - inclusive o terapêutico (ou seja, mesmo em caso de risco de vida - da mãe ou do bebê - ou de estupro, não se concede o direito à interrupção da gravidez).”
“Outra grande surpresa que tivemos foi que, alguns dias antes da nossa chegada, foi eleito o futuro presidente do país, Sebastián Piñera, numa virada à direita depois de 20 anos de centro-esquerda (o Chile não havia sido governado pela direita desde Pinochet). Apesar de controversa - foi alegada irregularidade nas primárias -, sua eleição traz à tona debates muito interessantes sobre a esfera política chilena. O primeiro ponto é que alguns setores da população se queixavam da inércia do partido anterior, que já fazia mais articulações para seu próprio interesse que políticas públicas, devido ao longo período em comando. Em segundo lugar, há um retorno das discussões sobre a liberdade de pensamento, já que algumas das medidas já anunciadas do futuro governo é reduzir os impostos aos livros - porém, somente aos livros "bons" (os demais continuam a ser taxados normalmente). Ainda está em jogo uma terceira questão, sobre a relação entre política, economia e meios de comunicação: Piñera é um grande acionista de três grandes empresas chilenas - a LanChile, a Chilevisión e o time de futebol Colo-Colo. Apesar de haver prometido vender suas partes nestas companhias caso ganhasse o pleito, Piñera voltou atrás e decidiu mantê-las”.
Às palavras do blog oficial, apenas acrescento uma característica, ainda no plano animal, desta cidade. A analogia não vai ser nada boa, mas considerem apenas o aspecto em comum, que é como chamam atenção ao primeiro visitante, logo nos primeiros minutos de uma volta pelas ruas; Assim como em Montevidéu a quantidade de idosos nas ruas salta aos olhos (alta expectativa de vida e alta idade média da população, além do êxodo de jovens), em Santiago do Chile a quantidade de cachorros nas ruas também salta aos olhos. São “vira-latas” de todas as espécies, dos autênticos vira-latas a Huskies Siberianos e Pastores Alemães, só não vi Poodles. Alguns com aparência muito boa, como se tivessem sido abandonados a poucos dias. A razão disto, não sei, nem ninguém a quem perguntasse soube explicar. Talvez eu devesse ter perguntado a algum taxista, já que, como no Brasil, eles sabem de tudo ou, ao menos, tem opinião formada sobre tudo.
Bom, já me alonguei mais do que imaginei quando escrevi: “Serei Breve”, sete parágrafos acima. Fecha parênteses.

Dias 17 e 18 – 24 e 25 de janeiro de 2010 – Argentina-Chile

“Magnífico efeito da altitude...”

            Saímos de Buenos Aires às 08 e pouco da manhã, rumo a Santiago do Chile. O cenário dos mais de 1.000 km percorridos até a fronteira é marcado por extensas planícies, ora cobertas por plantações de soja, ora alagadas dos dois lados do asfalto estreito, que tem apenas uma faixa em cada mão.


            A idéia inicial seria passar a noite em Mendoza, ainda território argentino, mas próximo à fronteira. Pelo andar da carruagem, e para tentar ganhar tempo na fronteira chilena, resolvemos esticar um pouco, atingindo a fronteira já de madrugada, umas 03:30 da manhã no meu laptop (perdemos um pouco a noção do fuso-horário exato na viagem...assumam uma margem de erro de 1 ou 2h para menos).
Até lá, a elevação da altitude foi perceptível apenas pelo GPS. 1.500m, 1.800m, 2.100 m. Estávamos, a maioria, já sonolentos (uns dormiam profundamente) quando, tão rápida e subitamente quanto a elevação de altitude, a “paisagem” se transforma numa vista, que poderia ser naturalmente chamada de espetáculo, tão exótica quanto fascinante. Montanhas e paredões altíssimos brotam de um terreno arenoso e repleto de pedras e sedimentos de todos os tamanhos. Estamos nas Cordilheiras? É noite. Só vemos com clareza o contraste dos contornos das montanhas com o céu pontilhado pelas estrelas, uma visão linda, difícil de ser registrada pelas nossas máquinas e mais difícil ainda de ser descrita em toda sua magnitude. A estrada é sinuosa e quase de terra batida, já que o concreto é coberto pela terra que sobe com a passagem dos veículos. Em alguns trechos, marcadamente ao lado de paredões, é coberta, para evitar que pedras que rolem do alto causem qualquer transtorno.



Para quem duvidava do efeito da altitude, essa foi uma boa primeira experiência. Os 3.100m são perceptíveis já não apenas pela tecnologia do GPS, mas pela resposta fisiológica dos nossos corpos. Apesar de leve, a menor pressão de O² nos exige um maior trabalho respiratório. A temperatura? Inversamente proporcional à beleza inusitada do lugar! As janelas e o chão do ônibus estão gelados. A sensação térmica no exterior é ainda mais baixa, efeito do forte vento constante. Não sei precisar a temperatura exata, mas é certamente mais baixa que nas noites mais frias do São Pedro de Itiruçu.
Agora são 06:00 (no meu laptop) e estamos numa fila de ônibus esperando nossa vez de sermos inspecionados pela rígida polícia chilena. Tem um ônibus procedente do Rio de Janeiro na nossa frente, com destino a Santiago do Chile... mais loucura que isso, só o que vai de Salvador a Caracas, via Buenos Aires, vulgo INULATÃO! Estamos mesmo torcendo para demorar mais um pouco para podermos apreciar a vista à luz do dia.
[...]
A inspeção chilena foi mais rígida porém mais organizada que a argentina. Sem maiores problemas.
Já havia amanhecido e paisagem se mostrou ainda mais impressionante. Depois de subir para atravessar a fronteira, agora descíamos pela estrada mais sinuosa que já conheci. Pelas nossas janelas, víamos vales, penhascos, paredões, cumes cobertos de gelo e, vez por outra, um riacho fruto do degelo montanhas acima. Esses riachos certamente se formam e permanecem por alguns dias ou meses, dada a diferença da vegetação nas margens destes, mais abundante, pincelada de amarelo pelas flores, dando uma outra vida ao espaço. A imensidão que nos engolia criava um paradoxo entre a imponência da natureza deste lugar com o sentimento de impotência que nos tomava.










Aos poucos, conforme nos aproximávamos de Santiago, as formações colossais deram lugar a um planalto, um ambiente igualmente distinto dos que já havíamos passado.


Aqui em Santiago, não teremos o apoio logístico da Odebretch, já que suas ações aqui são, como disseram, insipientes. Nossa estadia aqui foi organizada por uma amiga de Felippe, residente de Santiago mesmo. Estamos divididos em 3 albergues, próximos um do outro.
Mal havia colocado minhas coisas no quarto e que bela surpresa tive! Meus pais e meu irmão vieram passar uns dias no Chile e, nos acompanhando pelo sistema de rastreamento do ônibus, me encontraram no albergue. Já estava acostumado a conviver com os rostos, outrora desconhecidos, mas já tão íntimos dos caravaneiros e com os incógnitos rostos latino-americanos da nossa estrada que ver rostos literalmente familiares trouxe uma sensação estranha, algo como um lapso de percepção de lar, de estar em casa novamente. Quem já passou por algo parecido deve saber do que estou falando. Saímos juntos para “almoçar” na Plaza de Armas e, com o carro alugado, dar umas voltas pela cidade e fomos ao Cerro San Cristóbal, de onde é possível visualizar toda a cidade de Santiago, ainda mais bela no pôr do sol. Eles iriam a Valparaíso e Viña del Mar, que foram cortadas do roteiro da Caravana pelo mesmo motivo que Rosário e Córdoba, no dia seguinte, me convidaram, mas achei melhor manter-me junto ao grupo e à programação conjunta. Fui para o albergue, dormir, acabado.







Dia 19 – 26 de janeiro de 2010 – Chile

“Poesia materializada... rima, harmonia... quase melodia”

            Notícias do pessoal que foi na embaixada brasileira no Chile no dia anterior. A embaixada não havia lido o e-mail enviado pelo Itamaraty quase 1 semana antes, o qual determinava que as embaixadas dessem todo o apoio logístico e de contatos institucionais de que precisássemos. Resultado: nossa programação no Chile começaria praticamente 1 dia depois do esperado.
            Aproveitei a manhã para colocar meus 5kg de roupa suja para lavar (última lavagem tinha sido em Foz) e tirar um pouco do atraso destas Notas da América do Sul. À tarde, tivemos mais um momento de discussão em grupo sobre alguns pontos conjunturais da América Latina. Somaram-se às pautas já esperadas, as últimas notícias a respeito do terremoto e inundações no Peru, que deixaram ilhados mais de 1.000 turistas numa cidade próxima a Machu Picchu, Águas Calientes, e, também, em Machu  Picchu, entre eles 120 brasileiros, e a respeito da renúncia do vice-presidente da Venzuela, que vem resultando numa “quase guerra civil”, com já 2 estudantes pró-Chavez mortos em conflito com grupos contra-Chavez. Estamos torcendo para que a situação declarada de emergência do Peru melhore para que não percamos a oportunidade de conhecer Machu Picchu!
Lá pras 16:30h, após a discussão, fui na Plaza de Armas tentar conhecer o Museu de História Nacional. Fechava às 17:00h e conheci muito pouco (ou quase nada). Pelo menos pude aproveitar a Casa dos Correios, ao lado, para enviar um cartão postal para a namorada... fazer uma média, né?! =D




Continuaria a escrever no parágrafo anterior para descrever o passeio após a Plaza de Armas se este não tivesse sido tão peculiar, tão distinto. Inesquecível mesmo. A visita à casa de Pablo Neruda, no bairro da Bella Vista, é um programa imperdível em Santiago do Chile. Na verdade, valeria a pena ir para Santiago só para conhecê-la e conhecer um pouco da história deste poeta, aliás, deste homem, já que não há como resumir sua vida e suas atividades à “classe” poeta apenas. Foi diplomata (aos 23 anos), pacifista, escritor, político... . Sua 3ª e última esposa, Matilde, sua amante nos últimos 9 anos do 2º casamento, cantora, também é um caso a parte, dada sua força e inteligência após a morte de Neruda, tanto para denunciar os contra-sensos da ditadura quanto para reconstruir a casa onde viveu com Neruda, na época de amante e mulher, que havia sido destruída a mando da ditadura, uma tragédia cultural, como definiu o simpático guia de nossa visita. A história de amor de Pablo Neruda e Matilde inspira qualquer casal de namorados ou amantes e está presente em cada canto da casa, em cada objeto, em cada cômodo, todos recheados de simbolismos e poesia materializada, bem como os artifícios arquitetônicos e decorativos utilizados para que a morada simule um barco em alto-mar, desde as escadas, cordas, luminárias e quadros até o chão de tábuas de madeira. Para Neruda, o mar era inspiração e admiração, apesar de ter medo de água e não saber nadar. Tudo ali era poesia materializada, era poesia sem palavras, sem versos ou estrofes. Mas tudo tinha rima, harmonia. Quase melodia.





Depois de conversas inspiradas pela visita à casa de Neruda, os caravaneiros subiram o Cerro San Cristóbal, ao lado da casa. Como eu já conhecia, fiquei dando umas voltas por Bella Vista, repleta de bares, pubs, restaurantes, boites e jovens, aguardando o retorno dos demais. A essa altura, já eram quase 22:00, anoitecia, e foi só o tempo de jantar, acessar a internet para responder uns e-mails e conversar um pouco com namorada, amigos e familiares e descansar para o próximo dia, último em Santiago.



Ainda não me atreverei a relatar minhas impressões sobre esta cidade. Como comentei com uma colega de jornada, ainda não senti o ar, o clima, o espírito da cidade, se é que se pode sentir tudo isso em poucos dias. O que quero dizer é que minhas sensações sobre este lugar estão em construção, certificando-me se que o que vejo é o mesmo que sinto...


Dia 16 – 23 de janeiro de 2010 – Argentina

- Em construção -

Dia 15 – 22 de janeiro de 2010 – Argentina

- Em construção -

Dia 14 – 21 de janeiro de 2010 – Argentina

- Em construção -

Dia 13 – 20 de janeiro de 2010 – Argentina

- Em construção -

Dia 12 – 19 de janeiro de 2010 – Uruguai

"Quando eu digo que Deus não dá asa a cobra..."

             Como já havia comentado, exceto pelo Tribunal Arbitral do MERCOSUL, todos os demais órgãos administrativos se localizam em Montevideo. Cedo pela manhã, tivemos encontro com os principais secretários da Sede do MERCOSUL, que nos apresentaram a instituição, suas funções e objetivos em linhas gerais e se colocaram à disposição para perguntas dos estudantes. Foi admirável como a “visita” não se restringiu somente ao aspecto institucional, mas abrangeu o âmbito político e polêmico inerente ao que representava o local onde estávamos. Me surpreendeu que, só agora, está em criação uma secretaria voltada para as questões relacionadas à saúde, que muito provavelmente deveria ser tratada como um tema qualquer dentro de um balaio, supostamente homogêneo, com inúmeros outros.
            Saí da Sede do MERCOSUL um pouco antes do fim da reunião para conseguir chegar no horário marcado (um pouco atrasado, na verdade) no Hospital Filtro, onde encontraria com o Coordenador das ambulâncias, motoristas, enfermeiros e técnicos de enfermagem do serviço público de atendimento pré-hospitalar às urgências do Uruguai. Também pude gravar a conversa, ótima por sinal. Para resumir, da mesma forma que muitas características do sistema de saúde como um todo, o sistema pré-hospitalar de urgência está se estruturando de forma semelhante a no Brasil, na linha de organização francesa, em contra-ponto à americana. A infra-estrutura do local de trabalho do pessoal do sistema pré-hospitalar no Hospital Filtro era digna dos piores postos de saúde de Salvador. Segundo o Coordenador, estão em fase de re-estruturação, reforma e etc e tal e por isso estava aquela zona toda, onde “no se puede trabajar todavia”. Foi uma pena eu não ter gravado em vídeo o local. Aliás, foi uma pena eu não ter comprado uma caneta “spy”, para gravar vídeos “na cocó” de vários lugares por onde passei.





Enquanto isso, os demais caravaneiros estavam na ALADI (Associação Latino Americana De Integração). À tarde, foram ao CEFIR (Centro de Estudos e Formação em Integração Regional) enquanto eu voltei para o Hostel.
Voltei para o Hostel para ver se o Victor, do Ministério de la Salud, havia dado alguma resposta sobre minha proposta de fazer uma pequena apresentação sobre o SUS para o pessoal do Ministério.

“Estimado Davi:

Hoy ha sido un día dificil.
Ya sé que estuviste con la gente de MOVILES .
Hoy es imposible coordinar una charla sobre SUS, pero quisiera saber si vuelves a Uruguay y cuando para ver si logramos concretar algo.
Estamos en un período de definiciopnes politicas y el tiempo no alcanza para todo.
En breve busco los materiales  sobre SNIS y te envío.
Si puedes envíame el PP sobre SUS.

Nos mantenemos en contacto.
Fratrnalmente,  Víctor”

É... não foi dessa vez... numa próxima, quem sabe... =]
Deus não dá asa a cobra...
            À noite, fomos conhecer o Cassino que fica na esquina do albergue. Gastei uns 10 conto em caça-níqueis, fiquei abismado com a quantidade de dinheiro que algumas pessoas perdem ali na roleta, no pôquer ou no BlackJack (incluindo uns brasileiros de Fortaleza que estavam no albergue, já tinham ido no dia anterior e foram conosco de novo) e fiquei igualmente abismado com uma homem e uma mulher que ganharam, cada um, U$ 2.500,00 (dólares) no caça-níqueis!
            Quando eu digo que Deus não dá asa a cobra...


Dia 11 – 18 de janeiro de 2010 – Uruguai

"Sistema de saúde no Uruguai"

            Pela manhã, fomos recebidos pelo Reitor e alguns professores de várias áreas da Universidad de la Republica, a única universidade pública do Uruguai, país pequeno, com apenas 3,8 milhões de habitantes. De forma até inesperada para nós, pediram  desculpas por não ter podido organizar uma melhor recepção e lamentaram o fato de estarmos no período de férias dos estudantes, quando não poderíamos ter um contato maior com os mesmos. Como está virando rotina, felicitaram o grupo pela idéia da Caravana e pelas propostas apresentadas. A reunião foi ótima, todos se colocando bastante solícitos para contatos futuros, para realização do livro conjunto entre as universidades justamente sobre as universidades na América Latina e aceitando o convite para participação do grande seminário sobre integração regional a ser realizado em Salvador em agosto.


Ainda, após a reunião, os professores trataram de colocar cada estudante em contato com alguma autoridade da área de interesse. Um dos professores me acompanhou até o Ministério de la Salud, que ficava praticamente ao lado, e me apresentou a Victor Fomichov (El Russo), odontólogo e militante da reforma sanitária que está se desenrolando no Uruguai, notadamente a partir de 2007/2008, iniciada com Tabaré Vasquez e, muito provavelmente, continuada pelo presidente que vai tomar posse, o Pepe Mujica, já que são do mesmo partido, a Frente Amplia, segundo me disseram, de uma linha política semelhante a Lula.
Em conversa com Victor, que fiz questão de gravar, foi inevitável associar a reforma sanitária por que passa o Uruguai com aquela que viveu (ou vive?) o Brasil no final dos anos 80 e início dos anos 90. Foi bastante interessante o fato de a saúde no Uruguai estar se organizando, em alguns aspectos, de forma semelhante a no Brasil, com política de saúde mental, de saúde da mulher, de saúde dental, quanto ao atendimento às urgências e, principalmente, quanto à universalização, acessibilidade, equidade e gratuidade do atendimento. Apesar de todas as críticas que possam haver no Brasil quanto aos itens que citei, não posso deixar de sentir pelo menos uma pontinha de orgulho do Nosso SUS, criado a 20 anos (mesmo que ainda em implementação), cujas algumas diretrizes e princípios só serão alcançadas em pelo menos 10 anos, segundo o próprio Victor, por uma nação que está reformulando seu sistema de saúde quase 20 anos depois, em pleno século XXI. No mínimo, penso que estamos no caminho certo. Me foi curioso não conhecerem muito o SUS, o que percebi quando traçava alguns paralelos entre este e o que está se desenhando no Uruguai. Ao fim da conversa, inclusive, antes que eu oferecesse (o que faria, sem dúvida), o Victor me pediu que lhe indicasse e enviasse por e-mail alguns textos e documentos sobre o SUS, os quais seriam muito importantes para o momento que vive a saúde no Uruguai. A pedido, me passou o contato do Coordenador das ambulâncias, motoristas, enfermeiros e técnicos de enfermagem do serviço público de atendimento pré-hospitalar às urgências do Uruguai. Depois, descobri que há um Coordenador específico para os médicos, que, como no Brasil (ou no mundo), claro, tem que receber um tratamento especial né?!...afinal, são uma classe diferente, melhor, que as demais... (Que fique claro, estou ironizando).


À tarde, fui com mais 2 caravaneiros tratar de algumas questões de manutenção do ônibus, como troca do parabrisa que estava rachando, e compra de alguns equipamentos para a viajem, como os radiocomunicadores.









À noite, aproveitei a internet wi-fi, que nem sempre dispomos, para olhar alguns (e apagar vários) e-mails e conversar com todo mundo, até 02:00h da manhã. Não sei se foi muita ousadia, mas, como tinha mais um dia em Montevideo, enviei um e-mail pro Victor, do Ministério de la Salud, me oferecendo para fazer uma pequena apresentação sobre o SUS para aqueles, do Ministério, que estivessem interessados. Vamos ver no que é que dá...