segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Dia 6 – 13 de janeiro de 2010 – Brasil-Paraguai

“Janelas... Telas de documentários...”

            Ontem, começou o nosso BigBrother. Devido a falhas de comunicação e atrasos na saída das Cataratas, houve uma pequena grande discussão/desentendimento no ônibus sobre como essas coisas não podem acontecer, o quanto pode atrapalhar a organização e etc e tal. Os ânimos se exaltaram. Ainda, a suspeita do médico que atendeu Milena no hospital foi a mesma, praticamente confirmando o diagnóstico de infecção intestinal.



            Sairíamos de Foz do Iguaçu 12:30h, após o almoço. Pela manhã, a comissão organizadora precisaria resolver últimos detalhes no banco e comprar alguns equipamentos. Com a manhã livre, aproveitei para ir novamente ao mercado paraguaio, com mais 2 caravaneiros e Seu Marivaldo, um dos motoristas, para comprar 1 netbook e 1 celular a pedido da namorada e 1 som de carro para mim. O ônibus nos pegaria já do lado paraguaio, para evitarmos o pagamento da tarifa de 25 a 50% para voltar ao Brasil com compras acima de U$300,00. Em minha 2ª visita ao mercado paraguaio, com o olhar armado, pude observar algumas nuances que passaram desapercebidas anteontem, mesmo sendo tão marcantes. Nas famílias que sobrevivem dos camelôs, observei uma divisão do trabalho segundo a faixa etária, onde as crianças vendem brinquedos, os adolescentes distribuem panfletos de lojas, os adultos mais velhos e idosos cuidam das barracas e os adultos jovens...bem, os adultos jovens vendem pen-drive! E porque pen-drive? São pen-drives “Kingston” falsificados em sua maioria, sem nenhum valor agregado relevante. Então porque pen-drives? Eles podem abordá-lo de inúmeras formas:
            - Pendrive! Pendrive! – e no pé do ouvido, como um sussurro – Bagulho!
            - Pendrive! – novamente, bem baixinho – Fariña! Le pó!
            - Pendrive! Hashishe!
            Algumas vezes nem terminam a frase:
- Pendri...Cha!
            - Pendri... Bagulho! Fariña!
            Outras vezes, nem falam, somente fazem “psiu!” e simulam, com o nariz e o dedo indicador, um usuário de cocaína cheirando uma carreira.







            Considerando que o pendrive é relativamente fácil de falsificar e um produto muito procurado, formulei a seguinte tese: eles “vendem” pendrive só para disfarçar, mas, de fato, tiram dinheiro da venda de drogas ilícitas.
            Enfim, compramos tudo (Seu Marivaldo que o diga...voltou com uma sacola de um metro de altura e de largura), almoçamos (custou G$116.000, para 3 pessoas) e esperamos o ônibus atravessar para nos pegar no Paraguay, o que estava marcado para acontecer às 14:00hrs, mas só ocorreu às 16:30hrs. Como se já não bastasse a sensação de cansaço para piorar a espera, meu tornozelo esquerdo estava doendo e inchando, penso que devido ao tanto que andei hoje.




A estrada de Ciudad Del Este a Asunción, uns 370km, é  praticamente uma reta, ladeada, em quase toda sua extensão, por habitações modestas e pessoas humildes ou por vastos latifúndios de soja ou cana, propriedades de “Brasiguaios”, os brasileiros que vêm morar no Paraguay, boa parte destes, fazendeiros. Para além destas instalações, à beira da estrada, até onde a vista alcança não se vê nada mais que não tenha sido criado pela natureza. A primeira parada em terras paraguaias, num pequeno posto, me fez lembrar do interior da Bahia, das beiras de estradas dos municípios mais pobres. Meninos amarelos, de roupas batidas, alguns de pé no chão e com poucos dentes sãos num sorriso fácil logo nos abordaram pedindo dinheiro ou comida ao mesmo tempo em que faziam brincadeiras, entre si e conosco. Um deles tinha uma bicicleta. O mais velho devia ter uns 12 anos, era semi-mudo, o mais sorridente e, para completar a ironia, o que tinha menos dentes. O mais esperto (ou como queiram chamar o mais vivido), e “líder” da trupe, era o mais novo, de uns 8 anos, que quase confiscava os biscoitos que alguns caravaneiros davam. Muito simpáticos, adoraram as máquinas fotográficas e as filmadoras do pessoal da TV UFBA. Enquanto alguns caravaneiros brincavam com as crianças, outros já estavam do outro lado da estrada conversando e entrevistando os clientes de um bar e seus donos.




Seguimos viagem, sem maiores transtornos ou outras novidades.
Depois de quilômetros e mais quilômetros em linha reta, a primeira curva foi feita à noite já em Asunción, uma cidade provinciana, com poucos prédios, muitas barracas e, exceto pelas muitas farmácias e trânsito semi-caótico, um ar de interior.
Até o hotel, sempre acompanhados pelos cenários descritos e seus personagens nas janelas do ônibus, telas de documentários.

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