segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Dias 17 e 18 – 24 e 25 de janeiro de 2010 – Argentina-Chile

“Magnífico efeito da altitude...”

            Saímos de Buenos Aires às 08 e pouco da manhã, rumo a Santiago do Chile. O cenário dos mais de 1.000 km percorridos até a fronteira é marcado por extensas planícies, ora cobertas por plantações de soja, ora alagadas dos dois lados do asfalto estreito, que tem apenas uma faixa em cada mão.


            A idéia inicial seria passar a noite em Mendoza, ainda território argentino, mas próximo à fronteira. Pelo andar da carruagem, e para tentar ganhar tempo na fronteira chilena, resolvemos esticar um pouco, atingindo a fronteira já de madrugada, umas 03:30 da manhã no meu laptop (perdemos um pouco a noção do fuso-horário exato na viagem...assumam uma margem de erro de 1 ou 2h para menos).
Até lá, a elevação da altitude foi perceptível apenas pelo GPS. 1.500m, 1.800m, 2.100 m. Estávamos, a maioria, já sonolentos (uns dormiam profundamente) quando, tão rápida e subitamente quanto a elevação de altitude, a “paisagem” se transforma numa vista, que poderia ser naturalmente chamada de espetáculo, tão exótica quanto fascinante. Montanhas e paredões altíssimos brotam de um terreno arenoso e repleto de pedras e sedimentos de todos os tamanhos. Estamos nas Cordilheiras? É noite. Só vemos com clareza o contraste dos contornos das montanhas com o céu pontilhado pelas estrelas, uma visão linda, difícil de ser registrada pelas nossas máquinas e mais difícil ainda de ser descrita em toda sua magnitude. A estrada é sinuosa e quase de terra batida, já que o concreto é coberto pela terra que sobe com a passagem dos veículos. Em alguns trechos, marcadamente ao lado de paredões, é coberta, para evitar que pedras que rolem do alto causem qualquer transtorno.



Para quem duvidava do efeito da altitude, essa foi uma boa primeira experiência. Os 3.100m são perceptíveis já não apenas pela tecnologia do GPS, mas pela resposta fisiológica dos nossos corpos. Apesar de leve, a menor pressão de O² nos exige um maior trabalho respiratório. A temperatura? Inversamente proporcional à beleza inusitada do lugar! As janelas e o chão do ônibus estão gelados. A sensação térmica no exterior é ainda mais baixa, efeito do forte vento constante. Não sei precisar a temperatura exata, mas é certamente mais baixa que nas noites mais frias do São Pedro de Itiruçu.
Agora são 06:00 (no meu laptop) e estamos numa fila de ônibus esperando nossa vez de sermos inspecionados pela rígida polícia chilena. Tem um ônibus procedente do Rio de Janeiro na nossa frente, com destino a Santiago do Chile... mais loucura que isso, só o que vai de Salvador a Caracas, via Buenos Aires, vulgo INULATÃO! Estamos mesmo torcendo para demorar mais um pouco para podermos apreciar a vista à luz do dia.
[...]
A inspeção chilena foi mais rígida porém mais organizada que a argentina. Sem maiores problemas.
Já havia amanhecido e paisagem se mostrou ainda mais impressionante. Depois de subir para atravessar a fronteira, agora descíamos pela estrada mais sinuosa que já conheci. Pelas nossas janelas, víamos vales, penhascos, paredões, cumes cobertos de gelo e, vez por outra, um riacho fruto do degelo montanhas acima. Esses riachos certamente se formam e permanecem por alguns dias ou meses, dada a diferença da vegetação nas margens destes, mais abundante, pincelada de amarelo pelas flores, dando uma outra vida ao espaço. A imensidão que nos engolia criava um paradoxo entre a imponência da natureza deste lugar com o sentimento de impotência que nos tomava.










Aos poucos, conforme nos aproximávamos de Santiago, as formações colossais deram lugar a um planalto, um ambiente igualmente distinto dos que já havíamos passado.


Aqui em Santiago, não teremos o apoio logístico da Odebretch, já que suas ações aqui são, como disseram, insipientes. Nossa estadia aqui foi organizada por uma amiga de Felippe, residente de Santiago mesmo. Estamos divididos em 3 albergues, próximos um do outro.
Mal havia colocado minhas coisas no quarto e que bela surpresa tive! Meus pais e meu irmão vieram passar uns dias no Chile e, nos acompanhando pelo sistema de rastreamento do ônibus, me encontraram no albergue. Já estava acostumado a conviver com os rostos, outrora desconhecidos, mas já tão íntimos dos caravaneiros e com os incógnitos rostos latino-americanos da nossa estrada que ver rostos literalmente familiares trouxe uma sensação estranha, algo como um lapso de percepção de lar, de estar em casa novamente. Quem já passou por algo parecido deve saber do que estou falando. Saímos juntos para “almoçar” na Plaza de Armas e, com o carro alugado, dar umas voltas pela cidade e fomos ao Cerro San Cristóbal, de onde é possível visualizar toda a cidade de Santiago, ainda mais bela no pôr do sol. Eles iriam a Valparaíso e Viña del Mar, que foram cortadas do roteiro da Caravana pelo mesmo motivo que Rosário e Córdoba, no dia seguinte, me convidaram, mas achei melhor manter-me junto ao grupo e à programação conjunta. Fui para o albergue, dormir, acabado.







2 comentários:

  1. Ha filho nos te amamos... vc nos colocou aí hem?

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  2. As fotos retratam essa sua expressão "A imensidão que nos engolia criava um paradoxo entre a imponência da natureza deste lugar com o sentimento de impotência que nos tomava." De outra parte, eu acompanhando pelo GPS ao "ver" a paisagem imaginava os riscos das estradas sinuosas e desconhecidas pra vcs,imaginava o frio e me sentia numa angustiante ipotencia pq nao podia estar perto pra te proteger e ou fazer vc se agasalhar, nem mesmo podia ligar... mas mae é mesmo boba ne?

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